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Goteira

O que seria uma goteira além de um mero pingo d’água que insiste em vazar forrações nos tetos das residências em dias de chuva, algo tão insignificante, mas, que sinaliza algum problema na cobertura de uma casa, por exemplo, e necessita de uma ação corretiva.

A goteira também é uma expressão usada para definir uma pessoa que não consegue guardar segredo das coisas e nesse caso eu sou um indivíduo goteira, pois vou revelar um segredo bastante perturbador.

Mas, antes de contar o segredo preciso esclarecer que há um significado mórbido para o termo goteira, também chamado de sangrador, e se refere a uma ranhura ou concavidade aberta em uma lâmina de arma branca, uma faca por exemplo, ou mesmo uma espada, como as espadas medievais.

Esse tipo de entalhe nas lâminas promove o sangramento de uma vítima apunhalada, oferecendo um canal para que o sangue circule fora do corpo, enquanto a lâmina permanece alojada no corpo da vítima.

E assim ocorreu naquela noite de um verão qualquer, já no início da madrugada, bem ao lado de minha casa, em um terreno baldio onde se iniciavam as primeiras perfurações para colocar as fundações que seriam a base para construção de um prédio.

Eu assistia TV, minha esposa e filhos dormiam. Apenas eu e meu cachorro Painkiller, ou simplesmente Killer, estávamos acordados, quando um barulho seco vindo da rua assustou meu cão fazendo-o latir incessantemente. Simultaneamente ao barulho, um grito, um grito de dor e um choro breve.

Killer, um cão de porte pequeno, mas bastante forte, uma mistura de pitbull com vira lata, latia muito e parecia me implorar para chegar à porta da sacada de minha casa, verificar o ocorrido. Aproximei-me vagarosamente, enquanto Killer parecia grunhir e se mostrava bastante inquieto. Cheguei até a porta, caminhei até a sacada, porém, a rua estava silenciosa e sem qualquer movimento. Killer, acalmou-se, embora emitiu alguns uivos de contrariedade. Fiz um carinho nele e resolvi me recolher para dormir.

Assim que entrei em meu quarto vi minha esposa dormindo o sono dos justos, deitada de bruços, seminua, com um lençol atravessando seu corpo na transversal, cobrindo parcialmente a sua silhueta.

Ela estava linda, sensual e provocante. Me veio uma vontade grande de deitar sobre ela, fazendo-lhe carícias, beijando seu dorso, seu pescoço e deslizar minha mão sobre o seu corpo, até encontrar os seus seios. Mas, optei por chegar até a janela do quarto, próxima à cabeceira da cama, de frente para a rua, na tentativa de tentar entender o que poderia ter causado em Killer, aquela compulsão por latir incessantemente.

Killer era mal acostumado e sempre dormia em nosso quarto, em uma caminha especialmente preparada para ele. Parecia ter se acalmado. Ao contrário de mim, pois fiquei curioso em saber o que poderia ter acontecido. Afinal, eu havia ouvido um barulho seco e algo semelhante a um grito de dor ou pavor.

Fiquei de pé junto à janela, quando percebi uma movimentação diferente na rua. Fui surpreendido por uma cena macabra de um homem arrastando o corpo de outro homem, com uma faca encravada logo abaixo de seu tórax.

O sangue escorria daquele corpo seminu através da ranhura existente na lâmina do punhal usado para o crime. Era noite, mas a iluminação da rua me permitiu observar o sangramento daquele corpo já sem vida. O homem que o arrastava colocou o corpo sobre uma calçada de uma casa à frente e saiu tranquilamente caminhando pela rua em plena madrugada.

Liguei para a Polícia relatando o corrido. Eles só apareceram no início da manhã. Parte do sangue coagulara desenhando uma trilha vermelha do plasma que escorrera da goteira do punhal, fincado abaixo do tórax moribundo.

Orlando Rodrigues