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Vizinha do 201: a aparição.

A vizinha do 201.

Um microconto de Orlando Rodrigues.

Já havia se tornado uma rotina a sua aparição à janela da sacada de seu prédio, bem do outro lado da rua, de frente para a janela de meu quarto, sempre no mesmo horário, às dezesseis horas em ponto.

No início eu nem dei importância para o fato, uma vez que eu saía de meu banho de todas as tardes, sempre nesse mesmo horário, após chegar de meu trabalho em um grande banco.

Mas, o fato começou a se repetir cotidianamente, militarmente, sempre no mesmo horário e da mesma forma. A aparição da vizinha, uma jovem e bela mulher, que se debruçava sobre o guarda corpo de vidro da sacada de seu apartamento. Ela olhava fixamente para a minha casa e diretamente para mim, desafiando a minha mania de sair nu do banheiro e desfilar sem roupa pelo quarto com a janela aberta.

Morar sozinho me outorgava esse direito de ficar inteiramente nu no meu quarto e com a janela aberta. Afinal, quem não quer ver estrelas que não olhe para o céu. Quem já viu não se assusta e quem não viu não sabe o que é, portanto, ficar pelado no meu quarto era problema meu.

De fato, se tornou um problema, pois acabei me apaixonando pela moça da janela cuja aparição ocorria em trajes íntimos ou mesmo totalmente nua, sorria pra mim e acenava. Por meses foi assim, até que um certo dia ela resolveu falar comigo e me convidou para ir a seu apartamento de número 201.

Eu estava apaixonado e excessivamente encantado por ela, cheio de desejos, a ponto de algumas noites ter sonhos eróticos com ela. Não titubeei, vesti uma roupa, passei um perfume em várias partes de meu corpo, saí de minha casa e atravessei a rua. Toquei a campainha do interfone e ouvi o estalo do acesso concedido. Subi rapidamente as escadas do prédio sem elevador e apitei ofegante e já bastante excitado, a campainha do apartamento. A porta abriu. Entrei. Caminhei pela casa chamando pela moça a quem eu não sabia o nome. Adentrei a cozinha, sala, banheiro e o único quarto do apartamento e não a vi. Chamei, chamei, chamei. Abri portas de cômodos e armários e não a encontrei.

Saí do apartamento da moça estranhando a situação, pensando que ela pudesse ter ido ao meu encontro e nos desencontramos. Ao sair dei de cara com o zelador do prédio que, percebendo minha aflição, perguntou o que eu desejava. Perguntei pela moça que morava ali naquele apartamento. O zelador olhou fixamente em mim, passou rapidamente os olhos pelo apartamento que estava com a porta semiaberta e me revelou em tom sinistro.

          “A moça não mora mais aqui. Ela morreu já tem uns quatro meses. O senhor é parente dela?”   

Orlando Rodrigues

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