Kokedama e literatura: o equilíbrio entre simplicidade e criação

Kokedama e literatura: o equilíbrio entre simplicidade e criação

A técnica milenar japonesa do kokedama, que envolve o cultivo de plantas sem vaso, sustentadas por uma bola de musgo, é um exemplo simbólico da relação entre arte, cultura e natureza. No Japão, a arte do kokedama está profundamente enraizada em conceitos estéticos como o wabi-sabi, que valoriza a beleza na imperfeição e na transitoriedade. Esse princípio se reflete na simplicidade e harmonia das plantas suspensas, que, mesmo sem um recipiente tradicional, encontram equilíbrio e beleza na sua forma orgânica.
Assim como outras expressões artísticas, o kokedama vai além de uma técnica de jardinagem, sendo um reflexo da cultura japonesa, que valoriza a conexão espiritual com a natureza e o respeito pelos ciclos naturais. A arte, nesse sentido, é vista não apenas como uma criação estética, mas como uma extensão dos valores e tradições culturais que moldam a sociedade.
O ato de criar um kokedama também carrega um processo meditativo, no qual o cultivador reflete sobre o tempo, o crescimento e a vida, tornando-se um exemplo claro de como arte e cultura se entrelaçam, unindo o antigo e o moderno, o natural e o estético, em uma única prática.

A técnica do kokedama pode ser relacionada à literatura de várias maneiras, especialmente no que diz respeito à criação, ao simbolismo e ao ato de contemplação. Assim como na arte de cultivar uma planta sem vaso, na literatura, o escritor trabalha com elementos essenciais — palavras, personagens, tramas — para dar vida a uma obra que não precisa de adornos excessivos para transmitir profundidade e significado. Ambos envolvem paciência, cuidado e dedicação ao processo criativo.
Tanto a literatura, como o kokedama são formas de capturar a essência da natureza e da experiência humana em sua forma mais pura. Na poesia, por exemplo, o minimalismo e o valor da simplicidade refletem o espírito do kokedama, onde a beleza está nas pequenas coisas, na delicadeza e no equilíbrio entre o que é dito e o que fica subentendido.
Além disso, o kokedama, com seu ciclo de vida e transformação, pode ser visto como uma metáfora para a própria narrativa literária, que passa por diferentes fases: o nascimento da ideia, o crescimento das personagens e o desfecho, que, assim como a planta, continua a se transformar na mente do leitor.
Ambos compartilham um respeito profundo pelo tempo e pela evolução natural das histórias, sejam elas contadas pelas palavras ou pela vida das plantas.

Abaixo trecho de uma entrevista concedida por Cristiane Marry da Kokedama-gyn arte viva ao quadro projetos culturais no canal da ANEE, Associação Nacional de Escritores e Editoras.

A íntegra da entrevista você vê abaixo:

 

Orlando. Como você descobriu a técnica do kokedama e o que te inspirou a trabalhar com essa forma de arte viva?
Cristiane Marry: Quem me apresentou as Kokedamas foi o avô da minha filha. Ela tinha 2 anos, hoje ela tá com 18. Quando ele me apresentou as kokedamas, me falou sobre aquele processo, porque eu tenho muita planta em casa, sempre tive. E aí com essa questão eu nunca dei importância. Passado algum tempo, há 3, quase 4 anos atrás, eu me vi na oportunidade de empreender e por incentivo de uma amiga e comecei a fazer as kokedamas.

Orlando: Quais são os principais desafios na criação e manutenção de um kokedama, e como você lida com eles no dia a dia?
Cristiane Marry: Em primeiro lugar, não é só aprender a fazer a kokedama. Você precisa estudar sobre cada planta, cada planta que você vier desenvolver. Você precisa saber dela o que que ela
gosta, o substrato que ela gosta, o solo que ela gosta, se é de sol, é de sombra. E então assim, você tem que estar atento a essas questões, porque você pode fazer uma kokedama hoje e ela morrer daqui 3,4,5 dias. Então você precisa de adaptar ao habitat dela natural, para que ela desenvolva bem.
Orlando: Você enxerga uma conexão espiritual ou filosófica na prática do kokedama? Como a cultura japonesa influencia sua abordagem?
Cristiane Marry: Olha, é, eu acho assim, totalmente espiritual, porque a produção de uma kokedama envolve uma conexão. É espiritual mesmo. É uma conexão de mente e natureza. E se torna assim, prazeroso e extremamente
terapêutico lidar com as kokedamas e assim uma tem que conhecer da outra para que aconteça uma koquedama legal e se tornar terapêutico.
Orlando: De que maneira o kokedama pode trazer benefícios para quem vive em ambientes urbanos e deseja reconectar-se com a natureza?
Cristiane Marry: é super fácil. As kokedamas você pode trazê-la num pratinho para decorar a sua casa. De forma bem legal, você pode usar ela pendurada. Não precisa de vaso, ela alegra o ambiente, aquela bolinha de planta ali decorando o seu ambiente. É uma forma bem prazerosa de trazer a natureza para perto de você. você pode cultivar em
banheiros, em quarto, sala, em todo o ambiente da sua casa e do escritório também.
Orlando: Em sua experiência, quais aspectos dessa técnica você considera mais artísticos, e como você personaliza suas criações para que elas reflitam sua visão?
Cristiane Marry: eu penso o seguinte, uma kokedama para cultivar uma planta ali dentro daquela bolinha onde você envolve com musgo, vem com linha para segurar, precisa você usar o melhor substrato possível. Eu faço isso. Então assim eu vejo isso, o meu diferencial.