Dia: 9 de junho de 2025

Porquê

 

Por Marcelo de Carvalho Silva

Desafia. Explica e inquieta. Fruto exclusivo do gênero que, por humano, complica e incomoda. Decididamente, jamais satisfaz.

Mais amplo seria o frescor da brisa quando sopra nas folhas do coqueiro; a emergência que a terra dá à plântula; o luar que ilumina e embeleza a tida escuridão ou o quebrar das ondas, que faz praia nos mares. Será que somos mais felizes devido à inquietude?

Viver a plenitude do fato é explorar a imensidão das coisas, tocadas ou não. É participar em todo ambiente. Viver a causa, em si própria, não é nada, senão, quando aproveitada no porvir.

Há que ensejar o mundo vivido, em sua plenitude, com todas as nuances, desafortunadamente despercebidas pelos comuns ou pretensiosamente bisbilhotadas pelos míopes.

Como explorar, sem explicar? Trata-se de perceber: o movimento, o caminho, a forma, o modo e a grandeza. Será que isso não levaria, naturalmente, a querer explicá-la?

Talvez. Na plenitude vivida, não. Não precisa. Na pequenez humana, sim. É mais fácil explicar o que não se conhece, do que explorar a imensidão do que está em frente aos olhos. É questão de competência. É a facilidade do mínimo esforço, de empurrar com a barriga.

Mas, quando explica, não satisfaz. Num pequeno momento, tão pequeno quanto mais despretensiosa a explicação, poderia dizer que sim. Porém, para o vaidoso, no glamour de sua descoberta, quase nada transformado em tudo, sujeito e objeto, juntos, deve-se dizer que não. É inócua.

Há que perceber: tocar, ouvir, cheirar, ver e, mais, sentir. Não é fruto do conhecimento, tampouco da experiência, isoladamente. É, sim, fruto da sabedoria. Somente os sábios conseguem aliar o conhecimento e a experiência para fazer o que deveria ser o mais simples: perceber e explorar a plenitude da vida. Viver completamente.

Como lidar com o vírus da mente, que replica querendo explicar? Aonde pode levar de tanto atacar: à física, à medicina, à filosofia – mais ao meio do que ao fim? O que se quer é o sol, a saúde, o bem.

Desvia deles por se restringir ao meio. E, como encanta o ouro dos tolos… cega a vista dos desbravadores solitários, tragados no pontual, universo diminuto – anti universo.

Marca a ferro mais uma rês do hegemônico coletivo. Canção de sereia que apaixona, seduz e aniquila nos baixios dos mares. Miragem verdejante do oásis daqueles que se perdem no cáustico caminho.

Tando desconforto que faz contrastar a sensação, a razão e a devoção. Não há que dividir. Tem-se de completar. Primeiro perceber, depois, ora depois, não haverá, pois, já o é. Explica-se. O esforço maior que se tem é para contemplar. Sair do mundo comum e dirigir ao foco.

Não da razão e sim da finalidade. A finalidade das coisas da natureza.

Enxergar as partes que a compõem, o contato entre estas, a maneira que se completam, o que geram e como bastam. Quão difícil é perceber.

E, quando sente não há que explicar pois, naturalmente, a razão surge por si só. Não como instrumento no processo, mas, como evidência da própria perceção.

Porém, agora chega-se ao mais interessante. Tudo isso só é possível em havendo devoção, conclui-se. Pois, parece que do nada tudo surge. Há que se ter a criação. Mas, não se deve aqui entrar nessa seara, muito mais complexa e determinantemente fundamental.

Para isso, bem que gostaria de ver sentados numa mesa os mais corajosos (e, necessariamente, loucos!) ícones das religiões, filósofos e físicos, para saírem com uma posição conjunta sobre o tema da criação. Só poderiam sair da reclusão com um consenso, senão ficariam lá, irredutíveis, pálidos, agonizantes, até a morte. Sobre isso, pára-se aqui, ponto final: “Criou”.

interessante o esforço que o homem (gênero) comum tem de fazer para simplificar e ampliar. Ao contrário, sempre quer, por uma vontade intrínseca, incontrolável, consciente ou não, percorrer caminhos já trilhados pelo sistema. Acredita no sucesso pré-formatado, quase garantido.

E, na maioria das vezes, os poucos que conseguem atingir o dito êxtase, dececionam-se. A sensação é de vazio. É muito mais que uma questão de se ocupar com a briga do que se atingir o resultado.

Muitos dirão que isso já é muito: – “O que vale é tentar”. Outros se vangloriam da pífia conquista e emolduram-na na parede para sempre adorar. Estagnam e mumificam-se.

Outros, como já foi dito, se perdem no vazio: — lh, consegui! E, agora, o que fazer?

Sem dúvida, este último caso é o mais coerente como resultado de urna tosca situação. Ecoa: -“Dispa-se do periférico e foque no cerne”.

Já se falou e é sabido que o homem é um ser gregário. Isso facilita a proteção da espécie, a obtenção de alimento, a reprodução e a divisão de tarefas. Mas, complica no estabelecimento de valores individuais pois, o que não é massa, não é nada. É contra, rebelde, antissocial.

É desprovido de lugar e de falsas chances na canga que avassala, engana, domina e reduz á mera tração, substituível quando necessária. Melhor, assim: mantém-se íntegro.

Diga, em sã consciência, você já viu um monge budista ser homenageado com título de “Doutor Honoris Causa”? Ao mesmo tempo, o incrível é que ainda há aqueles que ficam desconsertados por não terem sido aceitos pelo vil. Decididamente, vocês se merecem, mesmo.

Ora, permitam-se crescer. Dispam-se da armadura. Rasguem-na, se preciso for, com a força do coração e a imensidão da alma. Vão ao encontro da chama que têm. Elevem-se. Nasçam.

I Premium Literatum – categoria Prosa e modalidade Crônica. Faculdade de Direito da Univerdidade Católica de Santos, SP