Dia: 27 de abril de 2025

Resenha: O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick

Adaptado do romance homônimo de Stephen King, O Iluminado (1980) é uma das obras-primas do diretor Stanley Kubrick e um marco incontestável do cinema de terror psicológico. O filme acompanha Jack Torrance (Jack Nicholson), um aspirante a escritor que aceita o trabalho de zelador de inverno no isolado Hotel Overlook, levando sua esposa Wendy (Shelley Duvall) e seu filho Danny (Danny Lloyd). No isolamento e sob a influência maléfica do hotel, Jack gradualmente mergulha na loucura, ameaçando a vida de sua família.

Kubrick transforma o terror tradicional em uma experiência opressiva, onde o medo não se baseia apenas em sustos repentinos, mas no clima crescente de desconforto e na sensação de que algo profundamente errado permeia cada ambiente. A fotografia é brilhante: os longos corredores simétricos, a paleta fria de cores e a câmera flutuante de Garrett Brown, usando a recém-inventada Steadicam, criam uma atmosfera de alienação e claustrofobia que prende o espectador do início ao fim.

A atuação de Jack Nicholson é icônica, equilibrando charme, humor sinistro e desvario absoluto. Sua transformação gradual é desconcertante, especialmente por não haver um momento claro de ruptura — o mal parece já residir em Jack desde o começo. Shelley Duvall entrega uma atuação visceral e vulnerável, profundamente afetada pela tensão real dos bastidores, uma escolha de direção de Kubrick que gera debates até hoje sobre seus métodos cruéis de extração de performance.

Embora Stephen King tenha criticado a adaptação por se afastar do tom mais emocional e compassivo de seu romance, Kubrick propositalmente cria uma história mais ambígua e enigmática, onde os temas de isolamento, alcoolismo e insanidade são mais secos e cruéis. O “iluminar” de Danny, a habilidade psíquica de enxergar horrores passados e futuros, é tratado de maneira quase secundária, reforçando a ideia de que o mal no Overlook é tanto sobrenatural quanto humano.

A trilha sonora dissonante e experimental contribui para o sentimento constante de ansiedade. Cada batida, cada som ambiente, potencializa a paranoia. O final aberto, com sua fotografia enigmática de 1921, permanece como um dos grandes enigmas da história do cinema.

Em suma, O Iluminado é mais do que uma adaptação literária; é uma experiência cinematográfica única, que transcende o gênero de horror. Kubrick entrega um filme que, como o próprio Hotel Overlook, prende o espectador em seus corredores infinitos de medo e loucura, tornando-se uma obra eternamente fascinante e assustadora.

Assista O iluminado clicando aqui.

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